domingo, 19 de junho de 2011

Kiriku

Kiriku : Breve análise psicopedagogica da construção de identidade

Sandra Dias Simplicio

-Ele é tão pequeno!!!!

Quando temos oportunidade de assistir um filme como Kiriku, percebemos a relação entre a criança, sua família e seu ambiente de Educação.

Kiriku e a feiticeira( Kiriku et la Sorcière) retrata a cultura de um povo num pequeno vilarejo africano que vive sob o domínio de uma feiticeira chamada Karabá.

Karabá possui a “fama “ de comer os homens da aldeia. Isto mesmo! Todos acreditavam que ela os devorava e por isso eles não retornavam para a tribo!

Kiriku é um personagem bastante enigmático, pois dentro da barriga da mãe fala e exige seus direitos: escolhe a hora de nascer, escolhe seu nome e tudo mais que um menino comum não faz. Ele é um mito.

Tais atitudes provocam em nosso íntimo espanto. Mas ao passo que a trama se desenrola nosso espanto se desfaz pois o nosso pequeno herói, trata-se sim de um herói, vai aos poucos construindo seu espaço.

Mas apesar do pequeno herói estar predestinado a ter sucesso, nada será tão fácil assim. Ele precisa resolver os problemas que surgem durante o desenrolar do filme: sua estatura, a falta de água, o desaparecimento dos homens da aldeia, as jóias perdidas, o medo da tribo ,saber porque Karabá era tão malvada, entender porque as pessoas da tribo eram tão contraditórias e o pior dos problemas: fazer com que as pessoas da tribo o ouçam.

E é neste tópico que irei inserir a criança . Ela precisa ser ouvida e nem sempre o adulto está disposto a ouvi-la.

Ela pode ter idéias e a seu modo tenta encontrar respostas para o conhecimento que está construindo.

Este é um filme excelente para despertar nossa reflexão a respeito da necessidade de aprendermos a ouvir o outro, especialmente a criança, a discutir o preconceito velado e para nos iniciar no conhecimento de contos africanos.

Para finalizar uma pequena análise psicopedagógica:

O filme inicia com Kiriku nascendo sozinho. A casa( útero) não lhe servia para mais nada e ele reclama seu nascimento como se já soubesse o próprio destino.
Seu nascimento não é nada natural. Somente alguém tão especial, teria um destino assim, nascer falando e cortar o próprio cordão umbilical. Como se tivesse que correr atras de um tempo perdido, pulando etapas rapidamente, assistimos a evolução cognitiva de Kiriku.

É natural que Kiriku precisava passar por todas as provações para conseguir o respeito da tribo e o direito de merecer o amor e a identidade que somente no final da trama lhe são conferidos. O pequeno personagem não tinha nenhuma credibilidade. Era pequeno!

Quem acreditaria que uma criança tão pequena poderia opinar com esperteza a respeito dos problemas que aparentemente pertencem ao mundo de adultos ?

Preso a condição de criança, precisa seguir passo a passo sua vida como um ritual de respeito a um tempo. O mesmo tempo lhe obriga a ter paciência e astúcia para estruturar- se e desenvolver atitudes para dominar e promover transformações na vida da tribo e consequentemente na sua .

Através das dificuldades, ele passa por vários apuros, ao se defrontar com animais hostis . Ele enfrenta um bicho gigante que sugava toda a água da aldeia. Ele quase morre e então renasce de dentro da água e nós poderemos sentir o ritual da canção da tribo cheia de simbolismo. Parecia que ele não tinha o repseito de ninguém, a não ser de sua mãe.

Enfrenta um gambá debaixo da terra e depois um pássaro disfarçado.

Ao enfrentar o javali, descobre através do tato de criança como este possuía uma audição sensível e assim temporariamente explora o animal até chegar no cupinzeiro. Kiriku amadurece também a partir de cada cena, em suas relações sociais.

O punhal, herança de seu pai, lhe auxilia nas lutas e na travessia mais importante. Tudo isso para falar com o avô, que vive muito longe.

Várias vitórias ele vai conquistando e ao mesmo tempo transformações se concretizam e singelamente são repartidas com o telespectador.

Só assim Kiriku alcança a etapa de amadurecimento e um nível de existência mais aprimorada, chegando a apoderar- se da condição de homem após o desfecho final. Um trabalho de um feitiço positivo de Karabá.

Kiriku passa por um trabalho psicopedagógico e todos são responsáveis pela grande parte deste ciclo: a preciosa mãe,o avô, a comunidade e a própria feiticeira.

Por isso é tão importante exercitarmos nosso olhar na construção vincular.

Para quem já assistiu, relembrar as cenas de diálogo entre alguns personagens, é um bom exercício para nós professores educadores.

Enfim , este é um filme que pode contribuir para o entendimento cognitivo da mente infantil e o desenvolvimento deste até tornar-se um adulto.

Infelizmente nem todas as crianças desenvolvem seu Kiriku interior e passam por muitas situações de desconforto ao lidarem com experiências dolorosas, no sentido de construir seu direito ao espaço de escuta.

Tão logo tecem questionamentos a respeito do que pensam ,são vilipendiados deste direito, e acabam por assumir um padrão vincular negativo com o conhecimento, com a escola e com a própria vida.

Sandra Dias Simplicio, professora titular de Educação Infantil / Psicopedagoga Clínica. Mestre em Psicologia Educacional.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

kiriku

Assistimos o filme Kiriku.
É incrível! Há alguns anos eu trabalho com este filme e muitas produções lindas são realizadas. Depois irei postar aqui.

Kiriku e a Feiticeira (parte 1/8)

kiriku


http://youtu.be/gxUiV9-R26k